Autores: Vitor e Lu Cafaggi
Editora: Panini Comics
Edição: 1ª ed., São Paulo, 2013.
É difícil encontrar uma criança que tenha crescido em meio
letrado no Brasil e não conheça os quadrinhos da Turma da Mônica. Criação de Maurício de Sousa, as tirinhas surgiram
em jornais e, com o tempo, ganharam destaque e caíram no gosto do público
brasileiro. O universo de Maurício de Sousa conta, atualmente, com quinze
diferentes turmas, mas Mônica ocupa lugar de destaque em nossa memória coletiva,
especialmente para quem viveu a infância nas décadas de 70, 80 e 90. Além das
revistinhas, os personagens ganharam bonecos, tornaram-se garotos propagandas
de todo tipo de marca, estrelaram longa-metragem e tiveram como lar seu próprio
parque de diversões – que foi um passeio escolar obrigatório para as crianças
paulistas e existiu entre os anos de 1993 e 2010. Nos anos 00, mais
especificamente em 2008, a marca passou por uma revitalização e com ela surgiu
uma nova linha para as histórias de Mônica e seus amigos: a Turma da Mônica Jovem, gibis publicados
em forma de mangá contando as aventuras da turminha agora adolescente. O
sucesso foi imediato e novos leitores foram atraídos, mas havia certa
resistência por parte dos leitores que cresceram com a turminha do bairro do
Limoeiro.
Em 2010, surgiu o projeto MSP 50 e sua continuação, MSP +50,
em que diversos artistas brasileiros - desde nomes conhecidos como Laerte e
Ziraldo até artistas relativamente novos no mercado - foram convidados a
publicar releituras das histórias da Turma da Mônica. E, para reconquistar de
uma vez por todas o leitor nostálgico dos quadrinhos de Maurício de Sousa e
celebrar o sucesso das releituras, surgiu o projeto Graphic MSP. Já foram
publicadas Astronauta Magnetar, de
Danilo Beyruth, Terror Espaciar, de
Gustavo Duarte e Laços, de Lu e Vitor
Cafuggi.
Os dois irmãos ficaram responsáveis pela história dos
personagens do universo de Maurício de Sousa mais queridos pelo público e deram
conta do recado. Aproveitando elementos clássicos das historinhas – o que
amarra a trama de Laços é um dos
planos infalíveis de Cebolinha – a HQ consegue trazer uma leitura original, mas
iluminada pelo brilho da nostalgia que é sugerido pelas cores e faz parte da
narrativa em si na forma das recordações dos personagens que permeiam a HQ em
belíssimas ilustrações.
Acompanhamos os personagens em uma aventura um tanto
diferente: dessa vez a turma do bairro do Limoeiro se une para ajudar Cebolinha
a procurar Floquinho após seu sumiço súbito. Como as primeiras tentativas
provam-se vãs, a turminha, seguindo uma pista, decide procurá-lo em um bairro
distante. Enfrentam a turma do bairro de lá e os perigos da noite longe de
casa. As diferenças dos personagens são deixadas de lado e, em seu lugar, a
narrativa celebra a sensação de família e união que existe entre as crianças.
Visualmente, Mônica, Cascão, Magali e Cebolinha são
facilmente identificáveis, mas elementos novos surgem. Nota-sel, em especial,
a escolha de retratar Mônica como visivelmente mais gordinha que seus amigos.
Nas histórias em quadrinho de Maurício de Sousa, o leitor sabe que ela é perseguida
por conta de seu peso, mas sua aparência não difere muito de seus amigos. É
interessante a escolha de trazer esse elemento para o plano visual, permitindo que
os leitores mais novos possam se identificar ainda mais com a heroína que
continua a criança mais forte do bairro e acaba testando sua força longe de
casa também. É interessante também observar que cada um dos irmãos Cafaggi
ficou responsável por diferentes partes da narrativa – Lu ilustra as memórias
das crianças enquanto Vitor ilustra o momento em que a ação acontece. Os
estilos dos dois são diferentes, mas se complementam harmoniosamente no todo da
obra. O desfecho é feliz e o leitor deixa a releitura dos irmãos Cafaggi com a
satisfação de ter revisto velhos amigos com novidades agradáveis para encantar.
O cuidado físico com a edição também merece destaque, além da atenciosa
inclusão de páginas que dividem com o leitor um pouco do processo de
(re)criação da HQ.
Nota: ♥♥♥♥