Autora: Angélica Freitas
Editora: Cosac Naify
Edição: 2ª edição, São Paulo, 2013.
“Não queria fazer uma leitura/ equivocada/ mas todas as
leituras de poesia/ são equivocadas” afirma um dos poemas que figuram lá pela
metade em Um útero é do tamanho de um
punho. Diante dessa impossibilidade, porém, fica subentendido que as
leituras serão feitas mesmo assim, inevitavelmente equivocadas e que o leitor
também fará a sua. E ele faz, respondendo ao interessante livro de Angélica
Freitas, cujo título é tão instigante quanto seus poemas. Seu tema principal é
a condição feminina no mundo, marcada fortemente por um mundo atual em que os
avanços tecnológicos são muito mais rápidos do que os avanços sociais.
É
interessante que determinar a condição feminina como eixo central de um livro seja
visto, por vezes, como diminuir o alcance de uma obra e, de vez em quando,
incomode alguns leitores. É interessante que o olhar masculino seja entendido como o “universal” e o feminino como um “segundo” olhar. Numericamente falando,
o olhar feminino é, oras, mais universal,
uma vez que existem mais mulheres no mundo do que homens. Um útero é do tamanho de um punho toca os grandes temas por meio de seu olhar feminino e não apesar dele.
O livro
divide-se em sete partes (“Uma mulher limpa”, “Uma mulher de”, “A mulher é uma
construção”, “Um útero é do tamanho de um punho”, “3 poemas com o auxílio do
Google”, “Argentina” e “O livro rosa do coração dos trouxas”), cada uma delas
trazendo variações que desenvolvem um tema predominante indicado pelo título. A
linguagem coloquial de ritmo rápido e em versos livres funciona bem,
especialmente com o humor da autora – o tipo de humor que desperta o riso para
logo em seguida fazer seu leitor questioná-lo.
Em “3
poemas com o auxílio do Google” a poeta brinca com resultados para pesquisas da
ferramenta de busca que completam três frases – “a mulher vai”, “a mulher
pensa” e “a mulher quer” – parece justificar a existência do livro de forma
irrefutável ao mostrar o senso comum que é temperado pela ironia do contexto em
que a autora o insere.
O que faz
com que os poemas de Um útero é do
tamanho de um punho sejam, então, causadores de um desconforto que faz seu
leitor – e aqui retomamos a ideia da leitura equivocada – culpar o escopo feminino
da obra é, na verdade, seu olhar cru que captura a experiência humana, a
civilização, em seu ridículo que é vivido todo dia durante tarefas tão inócuas
quanto uma pesquisa na internet.
É a harmonia entre esse olhar e a linguagem igualmente crua
que faz com que a poesia de Angélica Freitas funcione tão bem. Rápida e mordaz, hipnotiza por sua velocidade e pela
segurança com que a voz poética é conduzida, demonstrando o fôlego admirável de sua autora.
Nota: ♥♥♥♥♥