Título: Norwegian Wood
Autor: Haruki Murakami
Autor: Haruki Murakami
Tradutor: José Teixeira.
Edição: Rio de Janeiro: Objetiva, 2011.
Haruki Murakami é um escritor japonês autor de obras de ficção
e ensaios, além de tradutor. Estabelecido como um nome de peso entre seus
contemporâneos, Murakami foi um dos nomes a serem especulados como forte
candidato ao mais recente prêmio Nobel. Apesar do sucesso de crítica, o autor
sofre certa rejeição em seu país natal por ser fortemente influenciado pela
Literatura em língua inglesa e pela cultura ocidental.
A
publicação de Norwegian Wood em 1987 foi um importante momento na carreira do
autor, garantindo-lhe repercussão nacional e internacional. O romance consiste
nas reminiscências do narrador, Toru Watanabe, despertadas pela música do
quarteto britânico The Beatles que dá nome ao romance. Watanabe começa a
refletir sobre seus dias como universitário, marcados pelo trauma do suicídio
de seu melhor – e único - amigo do colegial, Kizuki.
Mais
adiante, o narrador diz estar escrevendo suas memórias, tentando preservá-las.
A transição de reminiscências para recordações escritas é feita de forma
passageira e um pouco desengonçada pelo narrador. O livro é recheado de
referências a escritores e livros que estão sendo lidos pelo personagem
principal e trazem, de certa forma, alguma informação sobre Watanabe e sobre o
período em que o livro se passa, os anos 60.
Quando
adolescente, Watanabe morava no interior com sua família. Sua amizade com
Kizuki o levava a conviver também com Naoko, namorada de seu amigo. Apesar de
ambos possuírem muito pouco em comum, a dinâmica do trio funcionava
harmoniosamente. Com a morte de Kizuki, Watanabe encontra no distanciamento
físico que a mudança para Tókio traz a possibilidade de recomeçar. Porém, após
algum tempo retoma contato com Naoko e encontra no luto e desamparo dela o eco
do seu.
O
envolvimento amoroso de Naoko e Watanabe é tão inevitável quanto é fadado ao
fracasso. Apesar disso, Watanabe insiste no relacionamento. O estado mental de
Naoko deteriora-se e ela é internada em uma clínica isolada, em que um ambiente
saudável, exercício físico, terapia e atividade comunal são priorizados.
Watanabe corresponde-se com ela e realiza duas visitas a esse lugar cujo
isolamento físico remete ao isolamento mental de seus habitantes. Naoko divide
quarto com Reiko, uma das moradoras mais antigas do lugar e exímia musicista
cuja carreira foi prejudicada por sua instabilidade psicológica.
Em Tókio,
Watanabe segue com sua vida universitária, estudando com afinco, mas sem
entusiasmo. Conhece Midori, jovem cujo empolgação pela vida contrasta
drasticamente com as experiências do narrador. Midori é uma força irresistível
para Watanabe, mas está determinada a não se deixar usar pelo rapaz, exigindo o
envolvimento emocional do relutante protagonista.
A
sexualidade é um dos principais temas do livro e é retratada com sinceridade no
que tange o masculino. A sexualidade feminina, no entanto, é fetichizada: só
aparece apresentada em extremos – os
principais interesses amorosos do protagonista são exatamente opostos no que
diz respeito a isso. Não há nada errado com vermos um personagem explorar sua
sexualidade, mas é impossível evitar a sensação de exagero quando todos os
personagens femininos não só são vistos com parceiros em potencial como quase todos
acabam se tornando. A sensação de que estamos lendo um wishfullfilment masculino permeia o que poderia ser uma
representação mais fiel do despertar sexual adolescente.
O luto e o
suicídio são presenças fortes na obra, assim como o contraste entre a cidade de
Tókio. Ambos são extensões da questão da juventude e Watanabe constantemente
reflete sobre como as pessoas que cometeram suicídio em sua vida serão jovens
para sempre, enquanto cabe-lhe o fardo de seguir adiante e se tornar adulto.
Tornar-se adulto surge como uma verdadeira decisão que Watanabe precisa tomar.
A morte do adulto também é apresentada como um momento definidor da narrativa
em uma cena bastante tocante em sua singeleza.
O título
original da obra é Noruwei no Mori,
uma tradução para o japonês de Norwegian Wood. A palavra “mori”, no
entanto, é usada para indicar madeira no sentido de floresta, e não madeira no
sentido material. O jogo de palavras parece uma escolha apropriada tendo em
vista que uma das mortes do livro acontece na floresta e também desperta
curiosidade a possibilidade de ser uma alusão à floresta de Aokigahara.
A prosa de
Murakami é agradável e o autor tem habilidade particular para construir
cenários bonitos e vívidos, focando-se bastante em paisagens e em
contrastá-las. A narrativa é de ritmo acelerado, mas como os momentos de ação
são intercalados com a descrição do cotidiano de Watanabe, o resultado é
natural. O universo criado por Murakami é povoado por personagens secundários
interessantes e complexos, embora pareçam às vezes exageradamente trágicos.
Como um todo, Norwegian Wood é uma
sensível história sobre o amadurecer, ainda que marcada por escolhas que pecam
pelo exagero.
Nota: ♥♥♥