sábado, 19 de abril de 2014

Norwegian Wood, Haruki Murakami

Título: Norwegian Wood
Autor: Haruki Murakami
Tradutor: José Teixeira.
Edição: Rio de Janeiro: Objetiva, 2011. 



           Haruki Murakami é um escritor japonês autor de obras de ficção e ensaios, além de tradutor. Estabelecido como um nome de peso entre seus contemporâneos, Murakami foi um dos nomes a serem especulados como forte candidato ao mais recente prêmio Nobel. Apesar do sucesso de crítica, o autor sofre certa rejeição em seu país natal por ser fortemente influenciado pela Literatura em língua inglesa e pela cultura ocidental.
            A publicação de Norwegian Wood em 1987 foi um importante momento na carreira do autor, garantindo-lhe repercussão nacional e internacional. O romance consiste nas reminiscências do narrador, Toru Watanabe, despertadas pela música do quarteto britânico The Beatles que dá nome ao romance. Watanabe começa a refletir sobre seus dias como universitário, marcados pelo trauma do suicídio de seu melhor – e único - amigo do colegial, Kizuki.
            Mais adiante, o narrador diz estar escrevendo suas memórias, tentando preservá-las. A transição de reminiscências para recordações escritas é feita de forma passageira e um pouco desengonçada pelo narrador. O livro é recheado de referências a escritores e livros que estão sendo lidos pelo personagem principal e trazem, de certa forma, alguma informação sobre Watanabe e sobre o período em que o livro se passa, os anos 60.
            Quando adolescente, Watanabe morava no interior com sua família. Sua amizade com Kizuki o levava a conviver também com Naoko, namorada de seu amigo. Apesar de ambos possuírem muito pouco em comum, a dinâmica do trio funcionava harmoniosamente. Com a morte de Kizuki, Watanabe encontra no distanciamento físico que a mudança para Tókio traz a possibilidade de recomeçar. Porém, após algum tempo retoma contato com Naoko e encontra no luto e desamparo dela o eco do seu.
            O envolvimento amoroso de Naoko e Watanabe é tão inevitável quanto é fadado ao fracasso. Apesar disso, Watanabe insiste no relacionamento. O estado mental de Naoko deteriora-se e ela é internada em uma clínica isolada, em que um ambiente saudável, exercício físico, terapia e atividade comunal são priorizados. Watanabe corresponde-se com ela e realiza duas visitas a esse lugar cujo isolamento físico remete ao isolamento mental de seus habitantes. Naoko divide quarto com Reiko, uma das moradoras mais antigas do lugar e exímia musicista cuja carreira foi prejudicada por sua instabilidade psicológica.
            Em Tókio, Watanabe segue com sua vida universitária, estudando com afinco, mas sem entusiasmo. Conhece Midori, jovem cujo empolgação pela vida contrasta drasticamente com as experiências do narrador. Midori é uma força irresistível para Watanabe, mas está determinada a não se deixar usar pelo rapaz, exigindo o envolvimento emocional do relutante protagonista.
            A sexualidade é um dos principais temas do livro e é retratada com sinceridade no que tange o masculino. A sexualidade feminina, no entanto, é fetichizada: só aparece  apresentada em extremos – os principais interesses amorosos do protagonista são exatamente opostos no que diz respeito a isso. Não há nada errado com vermos um personagem explorar sua sexualidade, mas é impossível evitar a sensação de exagero quando todos os personagens femininos não só são vistos com parceiros em potencial como quase todos acabam se tornando. A sensação de que estamos lendo um wishfullfilment masculino permeia o que poderia ser uma representação mais fiel do despertar sexual adolescente.
            O luto e o suicídio são presenças fortes na obra, assim como o contraste entre a cidade de Tókio. Ambos são extensões da questão da juventude e Watanabe constantemente reflete sobre como as pessoas que cometeram suicídio em sua vida serão jovens para sempre, enquanto cabe-lhe o fardo de seguir adiante e se tornar adulto. Tornar-se adulto surge como uma verdadeira decisão que Watanabe precisa tomar. A morte do adulto também é apresentada como um momento definidor da narrativa em uma cena bastante tocante em sua singeleza.
            O título original da obra é Noruwei no Mori, uma tradução para o japonês de Norwegian Wood. A palavra “mori”, no entanto, é usada para indicar madeira no sentido de floresta, e não madeira no sentido material. O jogo de palavras parece uma escolha apropriada tendo em vista que uma das mortes do livro acontece na floresta e também desperta curiosidade a possibilidade de ser uma alusão à floresta de Aokigahara.
            A prosa de Murakami é agradável e o autor tem habilidade particular para construir cenários bonitos e vívidos, focando-se bastante em paisagens e em contrastá-las. A narrativa é de ritmo acelerado, mas como os momentos de ação são intercalados com a descrição do cotidiano de Watanabe, o resultado é natural. O universo criado por Murakami é povoado por personagens secundários interessantes e complexos, embora pareçam às vezes exageradamente trágicos. Como um todo, Norwegian Wood é uma sensível história sobre o amadurecer, ainda que marcada por escolhas que pecam pelo exagero. 

Nota: ♥♥♥