Autor: Milan Kundera
Tradução: Teresa Bulhões Carvalho da Fonseca
Editora: Companhia de Bolso
Edição: 1ª ed., São Paulo, 2012.
Risíveis Amores é
uma coletânea de contos escritos pelo autor tcheco Milan Kundera entre os anos
de 1959 e 1968 e publicados juntos pela primeira vez no ano de 1969. O título
indica o principal tema das narrativas: o amor e o que ele tem de ridículo em
sua pretensão de ser sério.
Nos contos podemos perceber vários temas que são caros para
o autor e aparecem também em seus romances: a gratuidade da vida e o ridículo
como resultado dela, as relações entre o corpo e a mente, entre a memória e o
esquecimento, o sério e o cômico, o peso e a leveza, o desejo sexual que traduz
desejo pela vida e pela juventude e a questão da identidade que marcam toda sua
reflexão filosófica - característica marcante de suas obras que apresentam na
mesma medida humor negro e uma prosa rica.
Esses temas permeiam
todas as narrativas que são apresentadas para o leitor em sete contos:
“Ninguém vai rir” mostra as consequências da obstinação do narrador-personagem
em não escrever um parecer acadêmico – uma negação simples que vai ganhando
desdobramentos cada vez mais absurdos; “O pomo de ouro do eterno desejo” conta
também com um narrador em primeira pessoa, porém que se coloca como observador
e narra as quase aventuras de seu amigo mulherengo, porém fiel; “O jogo da
carona” é o primeiro conto em terceira pessoa do livro e narra a viagem de dois
namorados que, a princípio brincando, decidem fingir serem desconhecidos e
acabam percebendo o que existe de desconhecido no outro.
“O Simpósio” é o conto que ocupa posição central na obra e
também o maior em extensão. Divide-se em atos e há uma presença maior de
diálogos em que as personagens, médicos em um congresso, discutem sobre o amor.
É introduzido o personagem de Dr. Havel, psicólogo especializado em sexualidade
e casado com uma jovem atriz e que reaparece em outro conto do livro. Nesse
conto, reflete sobre a impossibilidade de ser Don Juan em um mundo onde tudo é
possível... a figura de Don Juan acaba por se tornar risível, parecendo mais
Don Quixote.
Segue então outro bloco de contos: “Que os velhos mortos
cedam lugar aos novos mortos” narra na terceira pessoa o reencontro de um casal
que se envolveu brevemente no passado quando a mulher viaja para verificar a
situação do túmulo de seu falecido marido; “O Dr. Havel vinte anos depois”
mostra-nos o personagem rumo a um tratamento de saúde em termas isoladas e
encarando o peso que a idade traz para sua exploração da sexualidade. A
presença breve de sua jovem e famosa esposa, no entanto, muda o cenário.
“Eduardo e Deus”, por fim, narra a chegada de Eduardo à pequena cidade onde
trabalhará como professor e seu envolvimento com a jovem e devota Alice que
encara o sexo como pecado. Em seu afã para seduzi-la, Eduardo decide fingir
acreditar em Deus. Isso, no entanto, o prejudica em seu serviço e o coloca à mercê da velha
e feia diretora da escola. Aqui temos a introdução do narrador em terceira pessoa
que faz digressões filosóficas e dirige o olhar do leitor de forma incisiva
para as palavras que formam o personagem que consagraram o estilo do autor.
As narrativas funcionam todas independentemente, mas também
podem ser interligadas pela recorrência de personagens e de motivos. A prosa do
autor é marcada pela leveza e ironia alcançada por meio de uma relativização do
tema que trabalha para revelar a vida como arbitrária e, por isso, mostra como inútil
a presunção de levá-la com seriedade. Sobre a obra, Milan Kundera afirma ser o
registro de quando encontrou sua voz, sua identidade e os temas que ecoariam no
todo de sua obra e, realmente, não há nenhum resquício de insegurança nas bem
polidas e bem realizadas narrativas que o autor apresenta – um ótimo livro para
introduzir ao leitor o universo de Kundera.
Nota: ♥♥♥♥♥
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