terça-feira, 10 de setembro de 2013

Risíveis amores, Milan Kundera

Título: Risíveis Amores
Autor: Milan Kundera
Tradução: Teresa Bulhões Carvalho da Fonseca
Editora: Companhia de Bolso
Edição: 1ª ed., São Paulo, 2012.

     Risíveis Amores é uma coletânea de contos escritos pelo autor tcheco Milan Kundera entre os anos de 1959 e 1968 e publicados juntos pela primeira vez no ano de 1969. O título indica o principal tema das narrativas: o amor e o que ele tem de ridículo em sua pretensão de ser sério.
     Nos contos podemos perceber vários temas que são caros para o autor e aparecem também em seus romances: a gratuidade da vida e o ridículo como resultado dela, as relações entre o corpo e a mente, entre a memória e o esquecimento, o sério e o cômico, o peso e a leveza, o desejo sexual que traduz desejo pela vida e pela juventude e a questão da identidade que marcam toda sua reflexão filosófica - característica marcante de suas obras que apresentam na mesma medida humor negro e uma prosa rica.
      Esses temas permeiam todas as narrativas que são apresentadas para o leitor em sete contos: “Ninguém vai rir” mostra as consequências da obstinação do narrador-personagem em não escrever um parecer acadêmico – uma negação simples que vai ganhando desdobramentos cada vez mais absurdos; “O pomo de ouro do eterno desejo” conta também com um narrador em primeira pessoa, porém que se coloca como observador e narra as quase aventuras de seu amigo mulherengo, porém fiel; “O jogo da carona” é o primeiro conto em terceira pessoa do livro e narra a viagem de dois namorados que, a princípio brincando, decidem fingir serem desconhecidos e acabam percebendo o que existe de desconhecido no outro.
      “O Simpósio” é o conto que ocupa posição central na obra e também o maior em extensão. Divide-se em atos e há uma presença maior de diálogos em que as personagens, médicos em um congresso, discutem sobre o amor. É introduzido o personagem de Dr. Havel, psicólogo especializado em sexualidade e casado com uma jovem atriz e que reaparece em outro conto do livro. Nesse conto, reflete sobre a impossibilidade de ser Don Juan em um mundo onde tudo é possível... a figura de Don Juan acaba por se tornar risível, parecendo mais Don Quixote.
     Segue então outro bloco de contos: “Que os velhos mortos cedam lugar aos novos mortos” narra na terceira pessoa o reencontro de um casal que se envolveu brevemente no passado quando a mulher viaja para verificar a situação do túmulo de seu falecido marido; “O Dr. Havel vinte anos depois” mostra-nos o personagem rumo a um tratamento de saúde em termas isoladas e encarando o peso que a idade traz para sua exploração da sexualidade. A presença breve de sua jovem e famosa esposa, no entanto, muda o cenário. “Eduardo e Deus”, por fim, narra a chegada de Eduardo à pequena cidade onde trabalhará como professor e seu envolvimento com a jovem e devota Alice que encara o sexo como pecado. Em seu afã para seduzi-la, Eduardo decide fingir acreditar em Deus. Isso, no entanto, o prejudica em seu serviço e o coloca à mercê da velha e feia diretora da escola. Aqui temos a introdução do narrador em terceira pessoa que faz digressões filosóficas e dirige o olhar do leitor de forma incisiva para as palavras que formam o personagem que consagraram o estilo do autor.
     As narrativas funcionam todas independentemente, mas também podem ser interligadas pela recorrência de personagens e de motivos. A prosa do autor é marcada pela leveza e ironia alcançada por meio de uma relativização do tema que trabalha para revelar a vida como arbitrária e, por isso, mostra como inútil a presunção de levá-la com seriedade. Sobre a obra, Milan Kundera afirma ser o registro de quando encontrou sua voz, sua identidade e os temas que ecoariam no todo de sua obra e, realmente, não há nenhum resquício de insegurança nas bem polidas e bem realizadas narrativas que o autor apresenta – um ótimo livro para introduzir ao leitor o universo de Kundera. 

Nota: ♥♥♥♥♥ 

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