Título: Poética
Autor:
Ana Cristina Cesar
Edição:
São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
A
companhia das letras lançou em 2013 Poética,
volume único reunindo os escritos de Ana Cristina Cesar e com curadoria de
seu amigo e também poeta Armando Freitas Filho. Aqui encontramos os livros
publicados em vida pela autora: Cenas de
abril, Correspondência completa, Luvas de pelica e A teus pés:prosa/poesia, além dos póstumos Inéditos e dispersos, Antigos
e soltos e Visita à oficina. O
livro conta ainda com apresentação, posfácio e apêndice escrito por nomes de
peso como Viviana Bosi e Heloisa Buarque de Hollanda. É recomendado para o
leitor que desconhece a obra da poeta um passeio pelos esclarecedores textos
teóricos, que pintam uma viva imagem de sua autora e trazem oportunas reflexões
sobre seu projeto poético, antes de mergulhar na leitura dos poemas.
A
obra de Ana C é marcada por dois aspectos aparentemente opostos, mas que aqui
se complementam: um gosto pelo diálogo com o leitor e pelas marcas de uma
linguagem atual, fresca, focada no plano semântico e uma profunda erudição em
suas referências e procedimentos – ao mesmo tempo que nos sugere uma produção
“in loco”, a leitura atenta nos faz perceber o artifício por trás desse efeito.
No universo de Ana Cristina Cesar é clara a influência do método de T.S.Eliot
em The Wasteland, com sua captura de
vozes cotidianas intercortadas, há fortes ecos do projeto poético de Fernando
Pessoa e da obra de poetas como Walt Whitman e Manuel Bandeira. Tudo isso é
feito de forma relativamente explícita, assim como o jogo de interlocuções que
constantemente convida o leitor para dentro da poesia para, logo em seguida,
atordoá-lo com seus cortes bruscos e suas ironias.
A predileção pelo tom confessional intenso e o
flerte com a prosa que surge em seu trabalho com os gêneros textuais diário e
carta sugerem uma relação fascinante com a expectativa que existe em torno da
“escrita feminina”, sempre subvertida pela autora de forma irônica. Sua poesia
trabalha os relacionamentos, o corpo, as questões existências, o movimento da
viagem e o movimento do autor para o leitor sem ser indulgente ou pretensiosa.
Seu
enquadramento na geração marginal dos anos 70 deveu-se, em grande parte, a sua
estréia na coletânea 26 poetas hoje
organizada por Heloisa Buarque de Hollanda, embora possa ser contestada na sua
recusa à certos métodos da época como o uso do poema-minuto e sua vocação
acadêmica; categorizações à parte, é indiscutível o impacto do legado de Ana
Cristina Cesar na poesia brasileira – celebrado, esse ano, pela FLIP.