terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

The Art of Quoting Books

 
       Olá, pessoal. Escrevo para apresentar para vocês o tumblr que criei para acompanhar o blog. Usarei esse espaço para postar as citações que mais gosto de minhas leituras. Como existe sempre um intervalo entre a leitura e a produção da resenha, vocês podem também aproveitar para saber qual o último livro que li acompanhando por lá ;) 
        Vale avisar que a ideia não é originalmente minha. A blogueira gringa Ashley Riordan, do climb the stacks, usa o tumblr dessa forma também. Aliás, recomendo fortemente o trabalho da moça para quem fala inglês.
         Espero vocês por lá. Boas leituras!

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Passeio ao farol, Virginia Woolf

Título: Passeio ao farol
Autora: Virginia Woolf
Tradução: Luiza Lobo
Editora: Nova Fronteira
Edição: Rio de Janeiro, 1987

            Passeio ao farol (em algumas traduções, Rumo ao farol) é um romance escrito pela autora britânica Virginia Woolf, um dos maiores nomes do Modernismo cuja extensa obra de ficção e não-ficção é um dos marcos literários do século XX.
            Publicado em 1927, dois anos após o famoso romance Mrs Dolloway, Passeio ao farol compartilha da mesma precisão técnica da obra anterior, porém explorada de novas formas. Enquanto Mrs Dolloway possui estrutura mais rígida – a narrativa se passa em um só dia e tudo que é descrito gravita em torno da personagem que lhe dá nome – Passeio ao farol afrouxa essas amarras. Aqui temos como constante somente o espaço: a casa de praia dos Ramsay e os personagens que a habitam. Já quanto ao tempo, a narrativa é dividida em três partes que marcam divisões do livro: “A janela”, “O tempo passa” e “O farol”.
            A primeira parte introduz os Ramsay, uma família formada pelo pai, o Sr. Ramsay, intelectual rígido, introvertido e obcecado com suas próprias realizações; a Sra Ramsay, bela, compreensiva e amada por todos na família, porém vista como um pouco distante e fria pelas pessoas de fora; oito filhos, entre eles Prue, a menina mais velha que é tão bela quanto a mãe, Andrew, o irmão mais velho, e o menino mais novo e mais próximo da mãe, James. Além dos Ramsay, fazem parte da narrativa alguns amigos da família que acompanham a viagem, como os jovens apaixonados Paul e Minta e a solteirona Lily Briscoe.
            A Sra Ramsay deseja, para agradar especialmente seu filho mais novo, visitar o farol que podem observar da casa de praia. A viagem exige que todos peguem um barco e o Sr Ramsay logo se recusa, afirmando que o clima está instável. A ação não é, entretanto, a principal ocupação do romance de Woolf. Em torno desses acontecimentos a autora lança mão da mudança de foco narrativo e do uso do fluxo de consciência para esmiuçar os sentimentos, impressões e sensações que fazem parte da vida doméstica dos Ramsay e os efeitos desse pequeno atrito entre o casal. Esse é, talvez, o grande tema de Passeio ao Farol: o universo interior escondido pela banalidade do cotidiano.
A personagem de Lily Briscoe e sua obsessão com a pintura de um quadro retratando a paisagem, em que a silhueta de uma distante Sra Ramsay aparece na janela trazem outro tema interessante explorado por Woolf: a preocupação com a perspectiva, com a representação fiel e o constante questionamento de Lily adicionam um interessante comentário sobre a relação entre criador e obra e como a visão do artista é determinante na hora de traçar um retrato.
            A segunda parte, “O tempo passa”, traz uma ruptura da narrativa até então estabelecida e toma lugar na casa de praia abandonada e em péssimas condições, além de introduzir, com a ajuda de um narrador onisciente, a passagem de dez anos e suas consequências – as mortes da Sra Ramsay, Prue e Andrew ecoam as perdas de uma Europa pós-primeira guerra mundial (motivo da morte do primogênito dos Ramsay). A casa em ruínas é arrumada, mas é impossível restaurá-la ao que foi.
            Por fim, “O farol” traz os personagens remanescentes realizando finalmente a viagem ao Farol. A harmonia familiar que era mantida graças à dinâmica entre a Sra e o Sr Ramsay está destruída e o ambiente doméstico é agora um lugar nocivo, em que os filhos, especialmente James, buscam resistir à tirania paterna. A chegada ao farol acaba por provar-se anticlimática, especialmente para James, que era quem a mais desejava. Ao longe, Lily observa com esforço o barco e depois termina sua pintura, finalmente satisfazendo-se com a execução de sua visão artística.
            A divisão do livro em três partes, todas realizando cortes bruscos na narrativa amplificam as impressões que os episódios narrados – a viagem dos Ramsay juntos, a limpeza da casa, a viagem ao farol – causam isoladamente, especialmente reforçando a sensação de estranhamento em relação à passagem do tempo. Passeio ao farol traz uma prosa rica e delicada combinada a uma precisão técnica meticulosa e bem refletida, explorando as complexas relações humanas e a inexorabilidade do tempo e da vida mediante os planos humanos. A obra alcança um equilíbrio harmonioso e artístico impressionante justamente por ser não só eficiente, mas também de uma beleza lírica única. 

Nota: ♥♥♥♥♥

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Breakfast at Tiffany's, Truman Capote


Breakfast at Tiffany’s, Truman Capote
Edição: Penguin Classics,
Editora: Penguin 

            Breakfast at Tiffany’s é uma novela do autor americano Truman Capote publicada em 1958 e adaptada para o cinema em 1961 com Audrey Hepburn no papel principal, além de ganhar adaptações para o teatro e televisão eternizando sua heroína.
            Em um estilo de escrita simples e claro, Capote narra as desventuras de Holly Golightly por meio de um narrador-personagem que sonha em ser um escritor e torna-se vizinho de Holly em um prédio em Nova Iorque. A narrativa começa quando o narrador é chamado por um amigo em comum preocupado com o destino da moça, o que o leva a revisitar suas memórias.
 Holly é o escândalo da vizinhança, indo e vindo durante a madrugada e recebendo visitas de admiradores constantemente, mas também exerce fascínio sobre todos com seu charme. Nosso narrador acaba por tornar-se uma das pessoas a quem ela recorre quando ela perde as chaves de seu quarto - o que acontece frequentemente - e o contato leva os dois a construir um relacionamento apesar das diferenças.
            Essa amizade é marcada, principalmente, pelos limites estabelecidos por Holly e sua recusa a discutir seu passado. Ela procura entender o interesse do narrador pela Literatura, mas acaba por ferir seus sentimentos com suas observações demasiadamente práticas. Uma surpreendentemente ligação emocional com o narrador é formada principalmente porque ele faz com que ela se lembre de seu irmão mais novo, a única ligação com o passado que Holly não tenta evitar.
            Sempre voltando de festas e vestida elegantemente, Holly não parece trabalhar. Descobrimos que uma das formas com que ganha dinheiro é visitando na prisão o mafioso Sally Tomato sob o pretexto de ser sua sobrinha e enviando mensagens aparentemente inócuas para o velho. Além disso, Holly possui vários admiradores que desejam ajudá-la e esperam, em troca de favores, conseguir sua afeição e aproveita-se disso. A superficialidade da qual poderia ser acusada é desconstruída pela afeição genuína que Holly oferece (embora não de natureza amorosa) e pelo passado de privações extremas que teve. A famosa obsessão da personagem pela joalheria Tiffany’s torna-se triste por demonstrar que Holly prefere buscar conforto longe das pessoas, em um ideal de vida inalcançável para uma moça de origens tão pobres.
Um caso com um empresário e político brasileiro com quem deseja casar-se acaba por abalar a amizade de Holly e do narrador, agora mais um dos apaixonados por ela. Mesmo quando seus planos de casamento falham, inspiram Holly a partir para a América do Sul em busca de seu ideal pouco convencional de felicidade – e a fugir das consequências de seu envolvimento com Sally Tomato que acaba sendo descoberto pela polícia. Holly sai de cena e deixa para trás um grupo de homens especulando sobre seu futuro, ainda desejando de alguma forma alcançá-la.
           O grande trunfo da narrativa de Capote é mesmo a sua personagem principal e não é sem motivos que Holly Golightly tornou-se um ícone da cultura pop. Seu charme e frases de efeito dão para a obra ar espirituoso que torna a leitura prazerosa. A narrativa é episódica e de ritmo rápido, com forte presença de diálogos. Pungente na medida certa, Breakfast at Tiffany’s mostra uma personagem que se recusa obstinadamente a deixar que outros escrevam sua estória.

Nota: ♥♥♥♥