Autor: Edgar Allan Poe
Tradução: Clarice Lispector
Editora: Nova Fronteira (Saraiva de Bolso)
Edição: 1ª ed., Rio de Janeiro, 2011.
Histórias
Extraordinárias é uma coletânea de contos escritos pelo autor norte-americano
Edgar Allan Poe que demonstra seu alto grau de reflexão sobre a arte da escrita
em suas realizações eficientes. Em vida, Poe destacou-se em seus textos de
crítica literária que demonstravam uma visão clara e informada que viria a ser
definidora também de sua obra literária.
A ideia de eficiência é uma constante para o autor, como o
ensaio A filosofia da Composição permite-nos
perceber. Poe acredita na construção
cuidadosa, metódica e atenta de cada obra literária para que seja alcançado o
efeito desejado por seu autor. Para isso, além de escolher cuidadosamente os
elementos integrantes que enriqueçam o tema ou motivo escolhido como objeto– o
cenário, os personagens, os símbolos – deve-se também atentar para a extensão
do texto, uma vez que uma leitura interrompida tende a diluir o efeito a ser
alcançado pelos recursos empregados. Sua
obra é considerada parte da resposta norte-americana ao Romantismo europeu
conhecida como a Literatura Gótica norte-americana. Os autores desse movimento
literário aproveitavam das origens puritanas do país e das ansiedades
despertadas pela sociedade em mudança para construir suas narrativas que
lidavam com o lado obscuro da sociedade.
É por isso que vemos em Histórias
Extraordinárias uma série de contos curtos na extensão total e também na
extensão dos períodos que os compõem – muitas vezes contando com frases
formadas por apenas algumas palavras e que imprimem um ritmo crescente à
leitura, criando uma tensão conforme o desfecho se aproxima. É dada preferência
ao tom confessional também comum ao Romantismo da época, evidenciado na
presença maior de narradores em primeira pessoa cuja incredulidade frente aos
fatos narrados ecoa a reação esperada do leitor.
Poe busca inutilizar o pensamento racional perante as
incoerências da natureza – seja por meio de elementos sobrenaturais, seja por
meio de personagens obsessivos, que fazem com que seu leitor questione a
natureza humana em seu todo. Existe evidente cuidado na construção e manutenção
de uma atmosfera opressora e sombria, das quais contos como “O gato preto” e a casa
em decadência do personagem principal e “A queda da Casa de Usher”, outro lar
destruído, são exemplos perfeitos. O gênero policial é explorado em contos como
“Os crimes da rua Morgue” e “O coração denunciador”. As possibilidades da (pseudo)ciência
da hipnose são motivo para “O Caso de Valdemar” e “Deus (Revelação Magnética)”.
Merecem destaque ainda “William Wilson”, interessante reflexão sobre a
identidade individual e “O retrato oval”, uma das reflexões sobre a arte mais
interessantes na obra. Os contos são um conjunto de exemplos únicos da
possibilidade contida dentro da Literatura que escolhe o terror como causa de
sua tensão e de como aproveitá-lo para trabalhar ansiedades humanas como o medo
da morte, do incompreensível e do comportamento humano quando esse se apresenta
inexplicável.
Nota: ♥♥♥♥♥