Título: Fahrenheit 451
Autor: Ray Bradbury
Tradutor: Cid Knipel
Edição: São Paulo: Globo, 2009.
Ray
Bradbury é autor americano de romances de fantasia, horror e ficção científica.
Suas obras receberam adaptações para diversas plataformas, entre elas o cinema
e o teatro. Bradbury é famoso também por ter sido engajado defensor das
bibliotecas públicas. Sem dúvidas é a paixão pelos livros a força motriz do
enredo de Fahrenheit 451.
O romance
trata de um futuro distópico em que livros são proibidos. Nesse futuro, a
função dos bombeiros é atender denúncias e queimar qualquer volume literário
que tenha escapado. É encorajado, no entanto, que os cidadãos acompanhem
programas aprovados e desenvolvidos pelo governo em telas imensas que permitem
até mesmo a interação do espectador com os personagens e apresentadores. É
assombroso que um livro publicado em 1953 consiga prever a obsessão com as
telas e o consumo constante de informação – na maior parte do tempo inútil –
das massas.
O livro é narrado em terceira
pessoa com foco em Montag, um bombeiro que vive uma vida pacata até o dia em
que, retornando do trabalho, é interpelado por sua jovem vizinha. Clarisse é,
para os padrões de Montag, estranha e perigosa por ter o hábito de observar as
coisas e fazer perguntas. Suas breves conversas com a jovem antes do sumiço
dela – mais uma vítima da perseguição política – despertam algo que, mais tarde
descobrimos, já não estava tão adormecido assim no protagonista.
Montag começa a se sentir
insatisfeito com sua vida. Podemos perceber isso principalmente em seus
conflitos com sua mulher, Mildred. Sua esposa é cidadã perfeita e recusa-se a
discutir com Montag suas ansiedades e questionamentos. Não devemos, no entanto,
assumir que ela não os tem: sua busca por alívio e alienação indicam justamente
o contrário: existe uma sensação de insatisfação que permeia todo o livro,
embora a maioria dos personagens não saiba articulá-la ou prefira ignorá-la por
medo de represálias.
O chefe de Montag percebe as
alterações em seu comportamento e decide conversar com o bombeiro, expondo o
ponto de vista do governo sobre a necessidade de banir livros. A leitura,
explica, não traz felicidade – pelo contrário, só faz as pessoas angustiarem-se
mais perante o mundo. Além disso, os níveis de conhecimentos alcançados pelas pessoas
não são sempre os mesmos, o que também as torna infelizes. É oferecida uma
segunda chance a Montag, mas as respostas de Capitão Beatty não o satisfazem e
é Faber, um aposentado professor de inglês conhecido por seu comportamento
subversivo que começará a fazer com que Montag entenda o mundo em que vive e
possa tomar uma decisão informada sobre que lado tomar.
A crítica social de Fahrenheit
451 é prejudicada por uma visão pouco clara do que é e como funcionam, de fato,
censura e opressão. Também não fica claro como o universo distópico do livro
consegue tanto avanço tecnológico com o conhecimento tão restrito – onde
caberia uma pontual discussão da questão de classes temos uma oportunidade
desperdiçada.
A prosa de Bradbury, por sua vez,
é atravancada pelo uso constante de metáforas que nem sempre acrescentam
informações interessantes e cujo valor lírico é questionável. O mote de
Fahrenheit 451 é inegavelmente brilhante. A proposta de pensar uma sociedade em
que os livros são proibidos é interessante, mas fica prejudicada pela crítica
social confusa e mal informada do autor. O estilo de Bradbury peca pelo
excesso, o que torna a leitura cansativa apesar do enredo movimentado. Ironicamente, a adaptação cinematográfica do
diretor francês François Truffaut faz melhor proveito da ideia central de Fahrenheit 451.
Nota: ♥♥♥
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