Autor: William Faulkner
Tradução: Wladir Dupont
Editora: L&PM Pocket
Edição: 1ª ed., Porto Alegre, 2009.
Enquanto Agonizo é
um romance do autor norte-americano William Faulkner. Sua escrita é marcada
fortemente por suas origens – nascido e criado no Sul dos Estados Unidos,
Faulkner inspirou-se na região e em sua identidade cultural para criar a
fictícia Yoknapatawpha onde se passam diversas de suas obras, inclusive O som e a fúria, seu romance mais
famoso. Sua produção extensa conta com 13 romances, um volume de contos, peças
teatrais e créditos como roteirista de cinema. Apesar disso, passou por algumas
dificuldades ocasionadas principalmente por sua batalha com o alcoolismo. Foi o
interesse de autores franceses como Camus e Sartre que reavivou a discussão em
torno de sua obra. Faulkner recebeu um prêmio Nobel por sua colaboração à
literatura em 1949, além de ter sido receptor de dois prêmios Pulitzer – um por
A fábula e outro por Os invictos, seu último romance.
O estilo de Faulkner é marcado por um pendão experimental
combinado com um olhar meticuloso que resulta em uma prosa vívida e que impõe
ao leitor seu ritmo calculado e eficiente. Em Enquanto Agonizo – título que faz referência a um verso da Odisseia de Homero - o autor lança mão
do recurso do fluxo de consciência brilhantemente, dando voz à 15 diferentes
personagens e, assim, acrescentando detalhes que transformam a narrativa em um
vislumbre fascinante da interioridade do ser humano, profundamente marcada por
um contexto árido e de privação.
O romance acompanha a viagem realizada pela família Brunden
para realizar o último pedido de Addie, a matriarca: ser enterrada em Jackson,
cidade de onde veio e onde estão seus parentes. A família é formada por Anse, o
pai que é sempre ajudado por seus vizinhos e aparentemente pouco afeito ao
trabalho braçal; Cash, o filho mais velho que trabalha como carpinteiro; Darl,
segundo filho do casal que passa por grandes turbulências psicológicas durante
a viagem e que é o narrador responsável por mais capítulos; Jewel, fruto de um
caso de Addie com pastor Whitfield e que, por isso, destoa de seus irmãos e é o
favorito da mãe; Dewey Dell, a única filha mulher que tem uma ligação única com
a mãe e é atormentada por uma gravidez indesejada e Vardaman, a única criança
da família.
A narrativa inicia com os preparos da família para cumprir o
desejo final de Addie, com Cash preparando com as próprias mãos o caixão da mãe
em frente à janela onde ela repousa no leito em que morrerá. Os vizinhos
visitam a família para oferecer ajuda, mas com a morte da matriarca, só resta
partir de Yoknapatawpha. A família enfrenta a distância aumentada graças à
destruição causada pela tempestade que caiu no dia da morte de Addie em uma
carroça em condições precárias.
O tempo da narrativa possui alguma linearidade, porém essa
não é rigorosa, uma vez que os personagens lembram-se de acontecimentos
passados em flashbacks e mesmo os
eventos recentes são constantemente retomados, especialmente quando há mudança
do narrador – o que acontece ao término de cada capítulo. Em um dos pontos
altos da obra, qualquer pretensão de linearidade é abandonada para dar lugar a
um capítulo narrado por Addie em que conhecemos melhor a personagem e sua
relação com o marido, os filhos e a vida. Esse capítulo é marcado também por
uma pequena, mas fascinante reflexão metalinguística sobre a natureza das
palavras e sua inutilidade perante a dureza da vida.
O autor consegue dar voz distinta a cada uma das personagens
e nisso está a maior realização do romance: da voz peculiarmente consciente de
Darl a obsessiva repetição de justificativas de Anse, cada personagem possui
sua identidade própria e por meio da expressão de sua visão única enriquece o
retrato dos Brunden - que permite, por sua vez, uma reflexão profunda sobre a
existência humana que faz com que o título de uma das obras mais importantes do
século XX seja merecido.
Nota: ♥♥♥♥♥
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