segunda-feira, 21 de julho de 2014

A fantástica vida breve de Oscar Wao, Junot Díaz

Título: A fantástica vida breve de Oscar Wao
Autor: Junot Díaz
Tradutor: Flávia Anderson
Edição: São Paulo: Record, 2009. 1ª edição.

         A fantástica vida breve de Oscar Wao é o primeiro romance de Junot Diaz – cuja estréia literária foi  o livro de contos Afogado – e pelo qual o autor recebeu o prêmio Pulitzer em 2008. De origem dominicana, Junot Díaz imigrou ainda jovem para os Estados Unidos e hoje é professor do famoso MIT (Massachussets Institute of Technology).
            Apesar de Oscar ser o personagem central e acompanharmos, como o título já indica, sua breve vida do ínicio ao fim, também são explorados os outros membros mais importantes de sua família – a mãe, a irmã Lola e sua avó, La Inca, que mora na República Dominicana em uma narrativa que divide-se em duas partes.
            Oscar é apresentado no primeiro capítulo: uma criança que conforme se desenvolve torna-se mais deslocado no mundo. Criado em uma comunidade de imigrantes, ele sofre por não conseguir se identificar com o esterétipo do latino. Gordo, nerd, solitário, tímido e terrivelmente romântico, Oscar tropeça pela vida e acaba encontrando uma paixão. A moça é colega de sala do cursinho onde Oscar estuda para sua segunda tentativa no exame de ensino médio americano, o SAT. A primeira desilusão amorosa alimenta sua vontade de encontrar na escrita um refúgio.
O segundo capítulo apresenta uma oscilação de narrador – ora usa-se a primeira pessoa, ora a terceira – o que, segundo o autor, é indicação de que o narrador estabelecido ao longo do livro, o dominicano Yunior, amigo de Lola e mais tarde Oscar, é quem de fato narra simulando o ponto de vista de sua amiga e ex-namorada. Lola vive em conflito constante com sua mãe, uma mulher antiquada que abusa fisica e psicologicamente da menina. Desesperada, decide fugir de casa para morar com o namorado, mas logo é resgatada pela mãe e mandada para a República Dominicana, onde mora com La Inca por uns tempos.
Temos, a seguir, um capítulo dedicado às histórias de origem de Belícia, mãe de Oscar e Lola. É revelado um passado de abusos e abandonos, até que a menina é resgatada por La Inca, uma parente distante que, incapaz de ter filhos, resolve procurar todos os parentes ainda vivos em meio a destruição da sociedade dominicana causada pela ditadura militar. Belícia é jovem impetuosa e, após uma desilusão amorosa durante a idade escolar, envolve-se com um gangster. Recusa-se a aceitar que não há destino para os dois e acaba engravidando somente para mais tarde descobrir que ele é casado com a irmã do ditador Trujillo. É dada a ordem para execução silenciosa de Beli. Milagrosamente, consegue sair com vida do canavial onde foi surrada e após recuperar-se, vai para os Estados Unidos onde constrói para si uma vida simples e marcada pelo trabalho pesado.
            O quarto descortina de vez o narrador que até então comentava a narrativa sem colocar-se como personagem. Ele é amigo de longa data de Lola, decide ser colega de quarto de Oscar para agradá-la. Atlético e mulherengo, Yunior decide “reformar” Oscar, mas acaba desistindo da missão e abandonando aos poucos a amizade com o irreparável nerd – apesar de não admitir abertamente, Yunior compartilha, embora com menor intensidade, os intesesses de Oscar e preocupa-se com o rapaz.
            Com os personagens centrais estabelecidos, acompanhamos as desventuras de Oscar até sermos apresentadas a que acaba por ser a final – sua paixão por uma prostituta amante de um dos generais da polícia dominicana, o que o coloca em perigo semelhante ao que sua mãe enfrentou anos atrás.
            A história da República Dominicana é presença forte em A fantástica vida breve de Oscar Wao, revelada seja pela narrativa, que demonstra a destruição do país e as cicatrizes deixadas de geração para geração, seja pelas surpreendentemente bem humoradas notas de roda pé escritas ainda no estilo do narrador e que comparam frequentemente Trujillo, o ditador, aos grandes vilões da cultura nerd – em especial, são feitas muitas referências à obra de Tolkien. Em ritmo acelerado e com uma escrita envolvente, Diaz discute os horrores das ditaduras financiadas pelos americanos que fizeram parte da história de vários países latino-americanos, a experiência da imigração e a identidade dominicana. O romance capta brilhantemente a força que move seus personagens em situações impossíveis – o instinto de sobrevivência da família de Oscar (e de todos os imigrantes), estranhamente envigorado por um impulso autodestrutivo.
Lola, mais próxima de La Inca do que de sua mãe, parece ser  única disposta a quebrar o ciclo (ou, como os dominicanos diriam, o fukú) da família e o desfecho indica alguma esperança de que finalmente consiga por meio da educação que sua mãe, personagem fascinante em sua complexidade, a garantiu e que agora lhe permite criar sua filha, Ísis, de forma mais consciente. 

Nota:

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