sábado, 12 de julho de 2014

Oranges are not the only fruit, Jeanette Winterson

Título: Oranges Are Not The Only Fruit
Autora: Jeanette Winterson
Edição: Grove Press, 1997.

        Jeanette Winterson é autora britânica conhecida principalmente pelo romance Oranges are not the only fruit. A obra foi adaptada para a televisão pela BBC e recebeu bastante destaque, além de arrebatar um BAFTA. A autora, por sua vez, também foi reconhecida por diversos prêmios e pertence a Order of British Empire por suas contribuições literárias ao país.
Com fortes tendências autobiográficas, Oranges are not the only fruit acompanha a vida de sua protagonista, Jeanette, da infância até a adolescência. Filha adotiva de um casal formado por uma cristã fervorosa e fundamentalista profundamente envolvida com a comunidade evangélica de sua cidade e um pai ausente, desde criança faz parte da congregação e é totalmente controlada por sua mãe, que também a educa em casa até os sete anos, quando recebe intimação para matriculá-la na escola.
A influência materna ainda prevalece e Jeanette sente-se deslocada dentro do ambiente escolar onde seu extenso conhecimento biblíco causa estranhamento e receio de colegas e professores. A igreja ainda é o lugar em que se sente em casa e, obedecendo aos desejos da mãe, estuda para tornar-se uma jovem missionária cristã. Apesar de sua lealdade, com a chegada da adolescência Jeanette vai percebendo que discorda de alguns pontos da doutrina que recebe, além de não simpatizar com o pastor famoso que sua congregação recebe. Percebe, também, que para os outros seu universo é estranho e o relacionamento com sua rígida mãe torna-se progressivamente mais difícil.
            Certo dia Jeanette conhece uma jovem na cidade e sente-se imediatamente fascinada por ela. A amizade entre as duas é imediata e Melanie passa a frequentar a igreja também. O relacionamento amoroso entre as duas lhes parece uma progressão natural, embora saibam que devem manter tudo em segredo. Quando descobertas, as jovens separam-se e Jeanette recebe traumático tratamento de sua família e comunidade, incluindo uma sessão de exorcismo em que é presa em um cômodo por trinta e seis horas sem comida. Jeanette finge arrepender-se e, com Melanie longe, dedica-se intensamente ao trabalho na Igreja – uma vez que sua habilidade linguística faz com que colha bons resultados, além de permitir que se sinta segura no ambiente predominante feminino em que cresceu.
Agora mais velha e longe da escola, com a igreja como sua principal obrigação, Jeanette sente-se satisfeita. Começa novo relacionamento com uma recém-convertida, Katy, e dessa vez procura manter o segredo com maior cuidado. No entanto, é descoberta e a congregação, incitada pelo pastor, decide que o problema é o proeminente papel exercido pelas mulheres da comunidade e que a atuação feminina deve ser limitada. Inconformada, finalmente decide abandonar sua casa e desligar-se da igreja. Arranja um emprego e começa a economizar para ir para Londres, lugar que idealiza como uma nova possibilidade.
            Narrado em primeira pessoa, o livro explora o impressionante impacto dos mitos bíblicos na mente jovem de Jeanette. Sua imaginação é toda ditada pelas estruturas narrativas e personagens que povoam essses textos que estuda com tanto afinco desde a infância. Os capítulos são nomeados segundo livros da bíblia que dialogam, na maioria das vezes pelo contraste, com o momento pelo qual a personagem central passa. O quinto capítulo, que ocupa posição central no livro, rompe de forma interessante com a narrativa estabelecida e apresenta um narrador – que não é a Jeanette-personagem – discutindo os conceitos de fato e ficção e como a história do passado individual de cada um é produto de ambos: não só dos fatos, mas também como eles foram por nós interpretados e pela forma que construímos nossas narrativas.
            Além do trabalho formal extremamente bem executado e reflexivo, a prosa de Winterson acompanha bem o desenvolvimento de sua personagem, dosando a influência do discurso religioso conforme o estado de sua heroína. Uma das principais características de Jeanette é sua eloquência, ferramenta usada tanto para o serviço da igreja quanto, mais tarde, para seu proveito próprio.
            Oranges are not the only fruit explora competentemente temas profundos em um número surpreendentemente pequeno de páginas: a religião, o papel feminino na sociedade, a morte, o preconceito sofrido pela comunidade LGBT e a própria natureza das histórias são abordadas de forma interessante e que revelam intenso cuidado da autora, resultando em uma obra executada brilhantemente.

Nota: ♥♥♥♥

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