Autora: Jeanette Winterson
Edição: Grove Press, 1997.
Jeanette Winterson é autora
britânica conhecida principalmente pelo romance Oranges are not the only fruit. A obra foi adaptada para a
televisão pela BBC e recebeu bastante destaque, além de arrebatar um BAFTA. A
autora, por sua vez, também foi reconhecida por diversos prêmios e pertence a Order of British Empire por suas
contribuições literárias ao país.
Com fortes
tendências autobiográficas, Oranges are
not the only fruit acompanha a vida de sua protagonista, Jeanette, da
infância até a adolescência. Filha adotiva de um casal formado por uma cristã
fervorosa e fundamentalista profundamente envolvida com a comunidade evangélica
de sua cidade e um pai ausente, desde criança faz parte da congregação e é
totalmente controlada por sua mãe, que também a educa em casa até os sete anos,
quando recebe intimação para matriculá-la na escola.
A influência
materna ainda prevalece e Jeanette sente-se deslocada dentro do ambiente
escolar onde seu extenso conhecimento biblíco causa estranhamento e receio de
colegas e professores. A igreja ainda é o lugar em que se sente em casa e,
obedecendo aos desejos da mãe, estuda para tornar-se uma jovem missionária
cristã. Apesar de sua lealdade, com a chegada da adolescência Jeanette vai
percebendo que discorda de alguns pontos da doutrina que recebe, além de não
simpatizar com o pastor famoso que sua congregação recebe. Percebe, também, que
para os outros seu universo é estranho e o relacionamento com sua rígida mãe
torna-se progressivamente mais difícil.
Certo
dia Jeanette conhece uma jovem na cidade e sente-se imediatamente fascinada por
ela. A amizade entre as duas é imediata e Melanie passa a frequentar a igreja
também. O relacionamento amoroso entre as duas lhes parece uma progressão
natural, embora saibam que devem manter tudo em segredo. Quando descobertas, as
jovens separam-se e Jeanette recebe traumático tratamento de sua família e
comunidade, incluindo uma sessão de exorcismo em que é presa em um cômodo por
trinta e seis horas sem comida. Jeanette finge arrepender-se e, com Melanie
longe, dedica-se intensamente ao trabalho na Igreja – uma vez que sua
habilidade linguística faz com que colha bons resultados, além de permitir que
se sinta segura no ambiente predominante feminino em que cresceu.
Agora mais
velha e longe da escola, com a igreja como sua principal obrigação, Jeanette
sente-se satisfeita. Começa novo relacionamento com uma recém-convertida, Katy,
e dessa vez procura manter o segredo com maior cuidado. No entanto, é
descoberta e a congregação, incitada pelo pastor, decide que o problema é o
proeminente papel exercido pelas mulheres da comunidade e que a atuação
feminina deve ser limitada. Inconformada, finalmente decide abandonar sua casa
e desligar-se da igreja. Arranja um emprego e começa a economizar para ir para
Londres, lugar que idealiza como uma nova possibilidade.
Narrado
em primeira pessoa, o livro explora o impressionante impacto dos mitos bíblicos
na mente jovem de Jeanette. Sua imaginação é toda ditada pelas estruturas narrativas
e personagens que povoam essses textos que estuda com tanto afinco desde a infância.
Os capítulos são nomeados segundo livros da bíblia que dialogam, na maioria das
vezes pelo contraste, com o momento pelo qual a personagem central passa. O
quinto capítulo, que ocupa posição central no livro, rompe de forma
interessante com a narrativa estabelecida e apresenta um narrador – que não é a
Jeanette-personagem – discutindo os conceitos de fato e ficção e como a
história do passado individual de cada um é produto de ambos: não só dos fatos,
mas também como eles foram por nós interpretados e pela forma que construímos
nossas narrativas.
Além
do trabalho formal extremamente bem executado e reflexivo, a prosa de Winterson
acompanha bem o desenvolvimento de sua personagem, dosando a influência do
discurso religioso conforme o estado de sua heroína. Uma das principais
características de Jeanette é sua eloquência, ferramenta usada tanto para o
serviço da igreja quanto, mais tarde, para seu proveito próprio.
Oranges are not the only fruit explora
competentemente temas profundos em um número surpreendentemente pequeno de
páginas: a religião, o papel feminino na sociedade, a morte,
o preconceito sofrido pela comunidade LGBT e a própria natureza das histórias
são abordadas de forma interessante e que revelam intenso cuidado da autora,
resultando em uma obra executada brilhantemente.
Nota: ♥♥♥♥♥
Nenhum comentário:
Postar um comentário